31
jan
2024

Presa nos EUA, mulher do ‘Faraó dos Bitcoins’ tem futuro incerto

Fonte: Jornal O Globo

Advogados de Mirelis Zerpa afirmam terem sido surpreendidos com notícias da detenção

Autoridades norte-americanas prenderam na quarta-feira Mirelis Zerpa, esposa de Gladison Acácio dos Santos — o “Faraó dos Bitcoins”. Ela foi encontrada em Chicago, nos Estados Unidos, numa cooperação internacional entre a Polícia Federal, o U.S Immigrations and Customs Enforcement (ICE) e o Serviço Secreto norte-americano. A prisão, segundo as autoridades, foi por ilegalidades do visto da venezuelana. A Justiça americana decidirá o seu futuro.

Mirelis é sócia do marido na GAS Consultoria Bitcoin. Eles são investigados por lavagem de dinheiro e, segundo as investigações, movimentaram R$ 38 bilhões entre 2015 e 2021. Eles são acusados de montarem um esquema de pirâmide usando as criptomoedas.

No final do ano passado, ela obteve um Habeas Corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A relatora foi a ministra Daniele Teixeira, que determinou, invés da prisão preventiva, que ela entregasse o passaporte e usasse tornozeleira eletrônica. Ela também foi proibida de ter contato com o marido, de realizar investimentos e saques. Ela passou dois anos com o nome na lista de procurados da Interpol, mas teve seu nome retirado da difusão vermelha em 26 de dezembro. O Ministério Público Federal recorreu da decisão, mas o pedido ainda não foi avaliado pela ministra. Está marcada uma audiência presencial para terça-feira, onde ela teria que se apresentar à Justiça brasileira.

— A regra hoje internacional das cooperações é que os países cooperam efetivamente entre si. Então provavelmente vai ter uma conversa com os três países (Brasil, EUA e Venezuela), e hoje muito mais facilitada — explica a advogada criminalista Rafaela de Otero, sócia do escritório OCM Advogados.

A defesa de Mirelis aguarda informações oficiais do governo americano. Em nota, disseram que ela fez contato com a família e que o motivo da prisão foi “uma irregularidade formal em seu visto, que era de desconhecimento de seus advogados”.

Mirelis deixou o país antes das investigações e vivia nos EUA desde 2021. Ela havia entrado no território americano com um visto de estudante, obtido com auxílio de Ricardo Rodrigues Gome, ex-piloto da Varig que tinha ligações com o traficante colombiano Pablo Escobar.

A polícia investiga se em solo americano ela continuava a coordenar o esquema. Nos últimos meses, ela reativou as redes sociais onde afirmou que a empresa não tinha mais como indenizar os clientes. Ainda compartilhava seus trabalhos como DJ e artes feitas com inteligência artificial. Já depois de presa, seu perfil postou um vídeo onde ela aparece como a Mulher-Maravilha.

Gladison Acácio está preso desde 2021, e há um ano foi transferido para o presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O Faraó dos Bitcoins ainda tem cinco prisões preventivas em rigor.

— A prisão em Catanduvas foi renovada apesar das alegações da defesa, que contesta a permanência dele. A administração do presídio e o MPF se manifestaram contra o retorno dele ao Rio — diz a advogada Juliana Bierrenbach.

Prisão de Mirelis surpreendeu defesa

Os advogados de Mirelis Dias Zerpa, mulher de Gladison Acácio dos Santos, o “Faraó dos Bitcoins”, disseram ter sido surpreendidos com as notícias sobre a detenção dela, nesta quarta-feira, em Chicago, nos Estados Unidos. Em nota publicada no Instagram da cliente, Andre Hespanhol e Ciro Chagas afirmaram que a venezuelana fez contato com a família e contou que o motivo da prisão foi “uma irregularidade formal em seu visto, que era de desconhecimento de seus advogados”.

A prisão resultou de cooperação internacional entre a Polícia Federal, o U.S Immigrations and Customs Enforcement (ICE) e o Serviço Secreto norte-americano. A detenção ocorreu devido à ilegalidade de sua permanência nos EUA. Na nota, a defesa disse que Mirelis, pelo menos até então, residia legalmente em solo americano.

“Mirelis vive, estudava e sempre esteve legalmente residindo nos Estados Unidos da América. Para as próximas horas, esperamos as informações oficiais”, disseram os advogados, que acrescentaram à nota trecho de decisão judicial de dezembro que, em caráter liminar (provisório), suspendeu a ordem de prisão preventiva até o julgamento do mérito de um recurso em habeas corpus.

Nessa decisão, assinada em 19 de dezembro, pela ministra do Superior Tribunal de Justiça Daniela Teixeira afirmou que o crime imputado a Mirelis não inclui violência ou grave ameaça diretamente e citou que a acusada mora no exterior. Com isso, suspendeu a ordem de preventiva e impôs medidas cautelares, como a entrega do passaporte de Mirelis em solo brasileiro e a não comunicação com outros investigados, como o marido dela, o Faraó dos Bitcoins.

Os advogados ainda disseram que “qualquer ordem de prisão eventualmente existente no Brasil, sobretudo ‘secretas’ (…) é absolutamente ilegal”. A defesa afirmou confiar que o episódio de sua detenção nos EUA seja “efetivamente exclusivamente em razão de qualquer irregularidade sanável quanto ao seu procedimento de migração”.brasileiro e a não comunicação com outros investigados, como o marido dela, o Faraó dos Bitcoins.

Mirelis é investigada na Operação Kryptos. Contra ela, havia um mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro/RJ pelos crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional, lavagem de dinheiro e integração de organização criminosa.

De acordo com a Operação Kryptos, a investigada era proprietária de uma empresa de consultoria em Cabo Frio/RJ, em nome da qual, a partir de 2015, foram firmados contratos de prestação de serviços para investimento em bitcoin, os quais eram oferecidos ao público em geral, incluindo pessoas jurídicas. Tais contratos prometiam rendimentos fixos mensais em uma quantia específica, sem autorização ou registro junto à Comissão de Valores Mobiliários.

Com as investigações, foi possível constatar que Mirellis, Gladison e cúmplices constituíram extensa rede para lavagem de dinheiro, que chegou a movimentar cerca de R$ 38 bilhões (trinta e oito bilhões de reais) entre 2015 e 2021.

Um dia antes de ser presa Mirellis fez uma postagem numa rede social em que refletia sobre o sucesso e o caminho para alcançá-lo.

“A qualidade da nossa vida é forjada na medida em que estamos dispostos a investir em nós próprios, sem deixar que as opiniões dos outros ditem o nosso caminho. Cada dia é uma oportunidade para apostar nos nossos sonhos, objectivos e paixões, independentemente do que os outros possam pensar ou dizer. Nesta jornada, encontraremos desafios e obstáculos, mas é precisamente nesses momentos que a nossa determinação é testada. Lembremo-nos de que a autoconfiança e a coragem de seguir o nosso próprio caminho são as chaves para a realização e o sucesso. Por isso, vá em frente, confie em si próprio e não tenha medo de apostar em grande no seu crescimento pessoal. A sua vida é sua para ser vivida ao máximo, sem restrições pela perceção dos outros. Voe alto e brilhe nesta incrível viagem chamada vida!” – escreveu

Segundo a Polícia Federal, o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, dono da GAS Consultoria é acusado de comandar esquema milionário de lavagem de dinheiro.

De acordo com a investigação, a empresa de Glaidson, com sede na Região dos Lagos, é responsável pela operacionalização de um sistema de pirâmides financeiras ou “esquemas de ponzi”, calcado na efetiva oferta pública de contrato de investimento, sem prévio registro junto aos órgãos regulatórios, vinculado à especulação no mercado de criptomoedas, com a previsão de insustentável retorno financeiro sobre o valor investido.

A movimentação financeira das empresas envolvidas nas fraudes apresentou cifras bilionárias. Glaidson prometia lucros de 10% ao mês nos investimentos em bitcoins, mas os investigadores afirmam que a GAS nem sequer reaplicava os aportes em criptomoedas, enganando duplamente os investidores.